Somos fãs. Incondicionalmente fãs. Decidimos arriscar e mandar umas perguntinhas ao escritor português que mais admiramos. Obtivemos resposta. Não a que estávamos à espera. Foi melhor ainda.
Mas, melhor mesmo, é lerem e entrarem um bocadinho no mundo do escritor. Porque escrever, é amor.
Blogger’s: Escrever é …
Pedro Chagas Freitas: Uma necessidade. Nem é um prazer nem é uma dor; é algo que tenho de fazer. Se não escrever fico ainda mais chato e ainda mais insuportável do que habitualmente. Hoje ainda não escrevi, por falar nisso. Nota-se muito?
B: O que mais gosta de fazer …
PCF: Estar vivo – e adorar. Não sou esquisito: estar com os que amo, amá-los, curtir tudo o que há para curtir. E há tanto, não há?
B: O que não tem paciência para fazer …
PCF: Esperar. Se estão duas pessoas à minha frente no multibanco vou-me embora. Odeio esperar. E ir às compras, já agora. Fico desesperado – à beira das lágrimas. Sou um chato, é o que é.
B: O amor é …
PCF: A existência de Deus. Se algo comprova que Ele pode mesmo existir, é olhar para alguém e encontrar o sentido de tudo. Sou um lamechas inveterado – ou será invertebrado?
B: A amizade é …
PCF: Uma maravilha. Tenho poucos – pouquíssimos – amigos. E no entanto basta-me saber que eles existem, que estão lá, para me sentir tão mais realizado. Por falar nisso, vou agora ligar a um. Com licença.
B: As relações de hoje são …
PCF: Como as de sempre. Muda o que está à volta mas não mudam as pessoas. Não vou em cantigas. Tudo está como sempre esteve – e ainda bem.
B: O que as mulheres não entendem sobre os homens …
PCF: Sei lá eu. Há tanta coisa que eu não entendo sobre os homens – e sobre as mulheres, já agora. Mas a magia disto tudo também é essa, não é? Se já soubéssemos tudo era uma seca, pá.
B: O nosso país é …
PCF: O nosso país. Bastaria isso para ser bom comó catano. Mas para além disso é um país lindo de morrer e altamente pacífico, no que isso tem de bom e no que isso tem de mau. Brandos costumes, sim. Mas nunca brandas exigências.
B: Falta, em Portugal ….
PCF: Mais capacidade de rir. Rir é a melhor coisa do mundo. Bem, a segunda melhor coisa do mundo.
B: Tem medo de …
PCF: Olhar para dentro e não encontrar ninguém. Assusta, não assusta?
B: Música do i-Pod …
PCF: Não tenho – mas se tivesse estaria sempre a dar-lhe com Pearl Jam, qualquer uma seria perfeita.
B: Livro de cabeceira …
PCF: Herberto Hélder e Rui Nunes – e também um dos meus, para ir fazendo revisão das provas e para ficar ao lado de livros de verdade.
B: Viagem de sonho…
PCF: Odeio viajar por fora: só viajo quando sou obrigado. Mas ao mesmo tempo não paro de viajar.
B: Chagas é um “palerma” porque …
PCF: Se expõe de uma forma idiota. Ainda não o tinham percebido?
B: Não gosta de escrever sobre …
PCF: Aquilo que não me apetece. Escrever o que bem me apetece é uma das minhas mais felizes conquistas na vida.
B: Um recado para os jovens …
PCF: Meus caros: essa cena – a juventude – é muito passageira. Pensem nisso.
B: “O” prato é …
PCF: Tudo o que tiver arroz para mim está bem. Mas neste momento ia uma francesinha – com arroz, claro.
B: “A” bebida é …
PCF: Pedras Limão é a mais recente loucura. Vamos ver se dura muito.
B: Futebol ou cinema?
PCF: Com companhia: cinema; sozinho: futebol.
B: Chamadas ou ‘sms’?
PCF: SMS: tudo o que interessa tem de ser escrito. Se não foi escrito: não existiu.
B: Cidade ou Campo?
PCF: Cidade para correr; campo para parar.
B: Casar ou “juntar os trapos”?
PCF: Juntar tudo: os trapos, os lábios, os braços, os sonhos, os corpos.
B: Suspira com …
PCF: Acordar todos os dias. Que delícia inexplicável.
B: Uma imagem vale mais que mil palavras?
PCF: Uma imagem é um conjunto de palavras por escrever.
B: O seu último livro fala de …
PCF: Amor. O amor enquanto ligação entre as pessoas. O dos amantes, dos amigos, dos familiares. O que nos une é amor. Sempre. E lá estou eu com as minhas lamechices.
B: Não vive sem …
PCF: Amor. Ups: repeti a resposta. Lamento. Sou um desgraçado de um lamechas – já tinha dito isto?
B: A inspiração vem …
PCF: Dos pulmões. Tal como a expiração. É nessa – na que vem imediatamente antes e imediatamente após a exploração – que eu acredito. A outra é desculpa de preguiçosos. Uma confabulação. Gira – mas uma confabulação, ainda assim.
B: Se não fosse escritor era …
PCF: Aquilo que sou agora. Não me considero escritor – Deus me livre. Sou um gajo que escreve cenas, só isso. E adoro.
Obrigada, somos, agora, ainda mais fãs. Adoramos estar vivas e poder ler os seus livros.
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